Uma catástrofe cósmica matou os dinossauros?

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

 

Não há mais dúvidas. Os indícios do impacto de um cometa ou asteróide, de cerca de 10km de diâmetro, na península de Yucatán, no golfo do México, há 65 milhões de anos foram encontrados a 3.000 metros de profundidade, na costa leste da Flórida. Anunciada em meados de fevereiro de 1997, esta prova definitiva foi localizada por uma missão submarina da Fundação Nacional de Ciências dos EUA que, além de cristais oriundos do asteróide, encontram três fragmentos de rochas cristalizadas, muitos fósseis de animais marinhos e cristais dispostos como se o fundo rochoso tivesse sido fundido quase que instantaneamente em virtude do intenso calor produzido no momento do choque. De fato, as rochas se mostravam vitrificadas, como tivessem sido aquecidas até se fundirem entre si. Junto aos cristais foram encontrados fósseis de algas, crustáceos e outros seres marinhos do período cretáceo (135 milhões a 65 milhões de anos). Nos sedimentos das camadas superiores mais próximas não se encontrou nenhum traço de vida, indícios de que a interrupção do ciclo biológico na região deve ter sido muito brusca. Em conseqüência, os organismos mais complexos, como os dinossauros, não tiveram tempo útil para se adaptar à longa noite de um ano que se seguiu ao impacto, quando a poeira e a fumaça decorrente dos impactos e dos incêndios que se seguiram ao choque, impediram que a luz solar responsável pela fotossíntese tivesse prosseguimento. Acredita-se que o asteróide, de 10km de diâmetro, deve ter atingindo uma região que se encontra atualmente coberta pelo Oceano Atlântico, na costa da América Central. Na realidade, o calor gerado durante o impacto foi tão intenso que o asteróide e as rochas atingidas se vaporizaram, dando origem uma nuvem gigantesca que se dispersou na atmosfera bloqueando a passagem da luz solar, o que impossibilitou a sobrevivência de várias espécies animais, dentre elas os dinossauros. Sem luz solar, a temperatura global sofreu uma enorme queda, gerando uma espécie de "inverno nuclear".

Formada em conseqüência do impacto, a cratera, com centro na península de Yucatán, México, parece estende-se por quase 180km de diâmetro. As amostras recolhidas permitem colocar em evidência como foi lento o processo de recuperação na Terra, depois da catástrofe. Além da cratera e das nuvens, o impacto provocou um gigantesco maremoto. Uma análise das camadas posteriores ao impacto mostraram a existência de uma camada de irídio - elemento desconhecido na superfície terrestre - que parece proceder do meteorito. Os sedimentos que se depositaram depois do impacto não mostraram nenhum sinal de vida durante alguns séculos.

Há algumas dezenas de anos, verificou-se que os registros fósseis mostravam que classes inteiras de formas de vida haviam desaparecido em diferentes épocas nos últimos 650 milhões de anos. Um desses maiores eventos de extinção ocorreu há cerca de 65 milhões de anos, nos limites entre as eras geológicas Secundária e Terciária. Nessa época, uma enorme quantidade de plantas e animais - quase a metade de todo o biogênero existente - desapareceu completamente. Para explicar tão singular ocorrência, em 1980, na reunião da Associação Americana para o Avanço da Ciência, em São Francisco, Estados Unidos, o físico americano Luis Walter Alvarez, prêmio Nobel da Física em 1968, e seu filho, o geólogo Walter Alvarez, apresentaram a hipótese de que há 65 milhões de anos, um asteróide de uma dezena de quilômetros de diâmetro e massa de quase 13 trilhões de toneladas se teria chocado com a Terra. Tal choque, além de cavar uma cratera de 175 quilômetros de diâmetro, teria provocado uma explosão equivalente a 100 milhões de megatons.

Logo depois do impacto, uma massa de poeira cem vezes superior à do asteróide foi projetada na atmosfera, mergulhando a Terra numa noite que durou de dois a três anos. Essa poderia ter sido uma das causas do desaparecimento dos dinossauros e dos outros imensos animais que dominavam o mundo naquela época. Somente os animais de pequeno porte, capazes de se alimentarem de raízes, grãos e resíduos orgânicos, conseguiram sobreviver e assim puderam rever a luz do Sol.

A hipótese dos Alvarez tem o grande valor de explicar o súbito desaparecimento dos dinossauros de uma maneira muito mais lógica que as hipóteses anteriores, segundo as quais esses animais se teriam tornado inadaptáveis à vida naquele ambiente. A suspeita de que esses eventos de extinção ocorrem regularmente foi levantada em 1977 por dois outros pesquisadores americanos, David Raup e John Sepkoski Junior, da Universidade da Califórnia. Em 1984, depois de estudar a extinção de 600 famílias de vida marinha nos últimos 250 milhões de anos, eles constataram 12 diferentes ocorrências desse tipo. A última teria ocorrido há 11 milhões de anos (na passagem do período Mioceno para o Plioceno).

A teoria do impacto dos Alvarez pode parecer em contradição com a teoria da extinção cíclica de Raup-Sepkoski. Mas estudos em 88 crateras produzidas na superfície terrestre por impacto de corpos celestes mostram uma interessante periodicidade entre elas - algo em torno de 28 a 31 milhões de anos. E foi com base em todas essas hipóteses que os astrônomos americanos Marc Davis e Richard Müller, da Universidade da Califórnia, propuseram que uma estrela anã, muito pequena e densa, que gira ao redor do Sol em um período de revolução da ordem de 26 milhões de anos, poderia ser a causa dessas extinções periódicas.

Por ocasião de sua passagem pelo ponto mais próximo do Sol, provocaria enorme chuva de cometas, alguns dos quais poderiam se chocar com a Terra. Um dos problemas para comprovar todas essas teorias que explicam a extinção dos dinossauros como conseqüência de um bombardeio de meteoros era a falta de um aparelho que pudesse medir com precisão a quantidade de irídio em amostras de rochas. O fato de o irídio ser muito raro na Terra e estar sempre associado à queda de meteoros contribui para a suspeita de que seja um elemento extraterrestre.

Recentemente, porém, os cientistas Frank Asaro, Helen Michel e Don Malone descobriram novo processo capaz de determinar com segurança a presença do irídio nas rochas terrestres. Podemos esperar para breve novas contribuições no sentido de esclarecer algumas das dúvidas que ainda envolvem a teoria sobre a extinção dos dinossauros. Em 1983, o Satélite Astronômico Infravermelho (IRAS) detectou o calor proveniente de um objeto a cerca de 80 bilhões de quilômetros de distância da Terra. Seria a estrela assassina? E essa estrela não seria o corpo invisível que, periodicamente, perturba as órbitas dos planetas Urano e Netuno e que os astrônomos suspeitam seja o planeta X - o décimo componente de nosso sistema solar?

 

Publicado no Jornal do Commercio, Caderno Atualidades, 23 e 24 de março de 1997.

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