Mars Pathfinder - o primeiro veículo a andar em Marte


Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (*)


A sonda Mars Pathfinder, lançada por um foguete Delta II, de Cabo Canaveral, na Flórida, no dia 2 de dezembro, é a segunda de uma nova geração de sonda em direção a Marte. Ela vai ultrapassar a anterior, Mars Global Surveyor, lançada em 7 de novembro deste ano que só deverá alcançar Marte, em setembro de 1997.

A Pathfinder penetrará na atmosfera de Marte em 4 de julho de 1997, quando um pára-quedas reduzirá sua velocidade de 43.500km/h para 48km/h, em 5 minutos. Seu pouso, amortecido por bolsas de ar, será no solo rochoso da planície Ares Vallis. Várias outras regiões de pouso foram analisadas durante os primeiros meses do ano de 1994, graças às informações transmitidas pela missão Viking, que esteve em órbita ao redor do planeta (1976). Estudaram-se as regiões que possuem muitos canais, como a Chryse Planitia; as regiões escuras de terras altas, como Oxia Palus, que possui altiplanos com depósitos escuros de areia deslocados pelo vento; Maja Valles - onde existe um delta que parece ter sido um antigo curso d'água - e as terras altas de Maja, ao sul do vale do mesmo nome.

Depois de 20 anos, esta será a segunda sonda norte-americana a pousar na superfície marciana: a primeira foi em 1976, durante a missão Viking, quando dois conjuntos de naves orbitais e módulos de aterrissagem (landers) pousaram em solo marciano. Essa missão custou US$ 1,7 bilhão. A nova missão Pathfinder será 90% mais barata: vai custar US$ 196 milhões no período de quatro anos (1994, 1995, 1996 e 1997). Ela faz parte da nova geração de sondas espaciais: cheaper, better, faster (mais barata, melhor e mais rápida), segundo a fórmula de Daniel S. Goldin, atual presidente da NASA. Elas serão lançadas com destino a Lua, Marte e Plutão, neste final de século e início do terceiro milênio. A sonda Pathfinder possui uma tecnologia muito superior à Viking. Ela deverá enviar fotografias e dados de qualidade muito melhor.

A região escolhida para pouso da nave, uma planície rochosa no vale Áres, está situada a 850 quilômetros a sudeste do local onde pousou a Viking 1, em 1976. Apesar de não ser possível prever com exatidão o ponto de descida, espera-se que o Pathfinder pouse no interior de uma elipse de dimensões variáveis entre 100 a 200 quilômetros quadrados de área, a quinze graus ao norte do equador marciano.

O módulo de aterrissagem transporta - Sojourner - um microjipe (microrover) e/ou um mini-robô, de seis rodas, 11 kg de massa, 65cm de comprimento e 48cm de largura, equipado com bolsas de ar capazes de amortecer o impacto no solo marciano. Durante a manobra de pouso, serão realizadas observações das condições atmosféricas por intermédio de instrumentos e câmaras instalados tanto na nave como no mini-robô. No solo, o módulo de aterrissagem da Pathfinder, além de servir como estação de rádio para o mini-robô (que será telecomandado da Terra pelos técnicos da NASA), funcionará como uma estação meteorológica. Será impossível ver a nave e o robô na superfície do planeta: os seus sinais recebidos pela estação do módulo de aterrissagem marciana serão retransmitidos pelo orbitador, situado ao redor de Marte, que nos dará informações da posição da nave e do robô em seu passeio pela superfície marciana.

Este primeiro veículo a passou pelo solo marciano recebeu o nome Sojourner, em homenagem a Sojourner Truth, mulher que lutou pela abolição da escravidão nos EUA.

Como a energia a ser usada pela estação e pelo mini-robô será de origem solar, a presença do Sol é fundamental. Essa foi a razão pela qual se escolheu para local da descida a região de melhor insolação no planeta em julho de 1997. Além do Sol a pino, tal região foi escolhida por estar situada num nível bem baixo em relação às demais, o que vai possibilitar que o pára-quedas tenha tempo suficiente para abrir antes que o módulo atinja a superfície. Pelo sistema de telecomando, será possível ordenar ao mini-robô que o seu espectrômetro, ao tocar em uma determinada rocha, informe automaticamente a sua composição. Espera-se que esta missão solucione alguns dos vários questionamentos relativos ao planeta, desde os sinuosos acidentes, que parecem constituir leitos de antigos rios, ao tão célebre e enigmático rosto de Marte. Mas, provavelmente eles darão origem a novas dúvidas sobre sua história geológicas e sobre a vida na superfície em eras passadas.



 

Publicado no Jornal do Commercio em 9 de dezembro de 1996

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