Ronaldo Rogério de Freitas Mourão
As futuras missões à Lua não terão a duração de alguns dias como foi o caso das missões Apollo. Deverão durar algumas semanas ou meses, tempo suficiente para iniciar e concluir as prospecções visando à instalação das primeiras bases lunares.Retorna a Página de ArtigosPara compreender o quanto foram dispendiosas e ineficientes as missões norte-americanas, basta assinalar que dos 35 astronautas que realizaram uma viagem de ida e volta na Apollo, somente 12 caminharam sobre o solo lunar, estabelecendo uma presença humana de menos de duas semanas. Retornaram das seis alunissagens com 382 quilogramas de 50000 amostras separadas. O interesse em utilizar a Lua como o grande espaçoporto para a exploração do sistema solar não reside somente no fato do campo gravitacional lunar ser um sexto do terrestre, o que permite a um foguete ao ser lançado da Lua gastar seis vezes menos combustível. Existe uma outra razão: na superfície lunar vamos encontrar grande parte dos combustíveis e metais necessários ao lançamento dos veículos espaciais.
De fato, 40% de massa da solo lunar contêm oxigênio. Ora, como sabemos que os melhores motores de foguetes a combustível líquido consomem 6kg de oxigênio para 1kg de hidrogênio, compreendemos a razão pela qual deveremos utilizar a superfície lunar como espaçoporto para lançar os veículos destinados às operações de colonização do sistema solar, no século XXI. Na realidade, será menos dispendioso e mais fácil recolher na Lua o oxigênio e enviá-lo aos planetas a serem colonizados do que retirá-lo da gravidade terrestre, onde pesaria seis vezes mais. Com efeito, a energia necessária para enviar os materiais lunares para uma órbita terrestre representará cerca de 5% da energia necessária para transferir a mesma massa de matéria da superfície do nosso planeta para uma órbita baixa.
Assim podemos concluir que apenas com apoio neste raciocínio, uma base lunar unicamente destinada à produção de oxigênio já constitui um empreendimento economicamente rentável. Um dos recursos fundamentais será a água lunar. é possível que ela seja inexistente mesmo nos pólos, onde talvez existam depósitos subsuperficiais de gelo perene (permafrost), segundo alguns estudiosos.
Por que é possível existir água nas regiões polares da Lua? A razão é simples. Nessas regiões as temperaturas não devem exceder a do líquido. Existem, sem dúvida, fendas e fissuras na superfície lunar, nos pólos, que jamais receberam a luz solar direta. Tais condições gélidas devem se conservar há bilhões de anos. A única forma de aquecimento são os impactos esporádicos de meteoros. Assim, em tais regiões, os gases devem ter se mantidos aprisionados permanentemente em virtude da ausência de um aquecimento solar.
Ao contrário do que ocorre nos pólos da Terra, que se beneficiam do aquecimento durante o verão em conseqüência da inclinação do nosso eixo de rotação, nos pólos lunares, por estarem quase perpendicularmente a linhados à eclíptica, o aquecimento durante o verão não ocorre.
Mas se não existir água na Lua, não esta tudo perdido. O último recurso será fabricá-la, usando o oxigênio das rochas e o hidrogênio do vento solar que também existe em abundância, no solo lunar. Uma outra solução será a redução dos óxidos de ferro lunares, que produziriam, além da água, o ferro metálico, outra valiosa matéria-prima para os primeiros lunáticos, no bom sentido da palavra.
Poder-se-ia alegar, com muito acerto, que extrair gases das rochas lunares é muito trabalhoso. Isto, porém, não é verdade, pois, Ao contrário, como já se pronunciou em 1986 a Comissão Nacional de Espaço dos EUA, os choques permanentes de meteoritos na Lua, já pulverizaram as camadas superficiais do nosso satélite natural. Assim as partículas que constituem o solo lunar são microscópicas. Desse modo, não será necessário triturar as rochas lunares antes do seu tratamento. As atividades mineiras na Lua se limitarão ao recolhimento do regolito lunar, que existe numa espessura de algumas dezenas de metros, para logo em seguida envia-lo diretamente para a usina de separação dos elementos. Tal usina deverá, por sua vez, ser alimentada por eletricidade resultante da transformação da luz solar em energia por intermédio de painéis solares.
A principal dificuldade resiste no fato da nossa civilização terrestre não ter sido preparada tecnologicamente para extrair oxigênio das rochas. O que vai ocorrer, na realidade, é que a indústria mineira lunar deverá realizar pesquisas e estudos completamentares para melhor viabilizar este novo processo industrial. O processamento do minério lunar terá que ser totalmente original. Como não existe água disponível para a lavagem dos resíduos, toda remoção dos mesmos será um sério problema. A superfície lunar é um local poluído pela poeira. Aliás, é muito "pegajosa". Ela adere de tal modo que manter limpa a base lunar já será um sério desafio. Uma solução levantada seria, na escassez de água, purificar os metais por um processo de vaporização das rochas lunares, o que será facilitado pelo vácuo da atmosfera lunar. Em oposição a esta vantagem, tal processamento exigiria um consumo elevadíssimo de energia. A solução seria, então, converter as pequenas crateras lunares em coletores de radiação solar.
Além disso, o hidrogênio que representa 0,01% da massa das rochas deverá ser extraído por aquecimento do regolito, com auxílio de
refletores solares antes de fase de extração do oxigênio.
Uma outra importante fonte de recursos naturais da Lua é o silício, composto essencial para as células fotossensíveis que são utilizadas na obtenção de painéis solares. Deverá representar 20% da massa do regolito lunar.
Para a elaboração dos foguetes, os cientistas e técnicos pensam em usar os metais existentes no solo, que contém 14% de alumínio e 4% de ferro. Na superfície lunar existem todas as matérias-primas necessárias para a construção das naves e foguetes a serem utilizados na conquista de outros planetas do sistema solar. O objetivo será empregá-la como o futuro centro industrial do nosso planeta. Assim elinaremos da superfície terrestre as indústrias, principal agente poluidor, o que permitirá preservar o único planeta realmente verde de todo o sistema solar. Nos próximos séculos, a terra voltará a ser um planeta pastoral e bucólico-sonho ecológico somente possível de ser atingido através da conquista espacial.
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