Tempo de observar Marte

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão(*)

 

Mais próximo da Terra desde a sua aparição de 1988, no período de 14 de maio até 8 de agosto, será mais fácil observar o planeta Marte em virtude do seu brilho e diâmetro aparente, os maiores nós últimos 13 anos. De fato, em 21 de junho próximo, Marte alcançará sua menor distância da Terra, ou seja, 67.342.977km. O planeta esteve muito perto da Terra nas oposições periélicas de setembro de 1956 (56 milhões de km), de agosto de 1971 (57 milhões de km), e julho de 1986 (60 milhões de km).

A melhor época para observar Marte é quando este planeta e a Terra, além de se encontrarem do mesmo lado do Sol, atingem a menor distância possível entre si. Isto ocorre quando os três astros se encontram alinhados e a Terra ocupa a posição central. Neste caso, visto do nosso planeta, Marte e o Sol estariam em posições opostas no espaço; razão pela qual esta configuração planetária é denominada oposição. Diz-se que Marte está em oposição ao Sol. Nessa época, o planeta nasce, em geral, às 18 horas, quando o Sol se põe; passa mais próximo do zênite à noite, deitando-se às 6 horas, quando o Sol está nascendo.

Nem todas as oposições, que ocorrem de dois em dois anos, são favoráveis, em virtude das órbitas dos planetas não serem circulares, e sim elípticas. As posições mais favoráveis - a distância Terra-Marte é quase mínima - ocorrem quando Marte se encontra no periélio (menor distância ao Sol), ou em suas vizinhanças. Tais posições, conhecidas como oposições periélicas, acontecem em geral nos meses de agosto e setembro, quando o planeta se encontra próximo do seu periélio. Por outro lado, as oposições que ocorrem nos meses de fevereiro e março, nas vizinhanças do afélio (maior distância ao Sol) de Marte, são designadas por oposições afélicas.

A aparição de 2001 pode ser considerada como uma oposição periélica tendo em vista que de Marte estará somente 73º de longitude do periélio, no momento da oposição, que vai ocorrer às 18 horas do dia 13 de junho, sendo que a máxima aproximação à Terra vai ocorrer no dia 21 de junho, quando o planeta vermelho terá um diâmetro aparente de 20,8 segundos de arco e magnitude -2,3. Marte poderá ser visto no céu logo após o pôr-do-Sol, do lado do nascente (leste), na constelação de Sagitário, ainda no mês de abril, quando então começará a se deslocar para a constelação de Ofiúco no início de junho. Por ocasião da sua oposição, em 13 de junho, permanecerá visível durante toda a noite.

Esta aproximação de Marte constitui, para o observador interessado no céu, uma ocasião única para apreciar o planeta a olho nu e com instrumento modesto. Devemos salientar que nestas épocas, Marte será um dos mais interessantes objetos celestes visíveis a olho nu, em virtude do sua coloração acentuadamente avermelhada, razão pela qual o planeta foi associado ao deus da guerra entre os romanos.

Com um telescópio de 50 a 60 milímetros de abertura e um aumento de 100 vezes vai aparecer como um pequeno disco uniformemente colorido de ocre rosado. Nas condições mais favoráveis poder-se-á distinguir, sob o aspecto de um ponto brilhante, a calota polar. Esta calota, branca devida ao gelo que a compõe, será um acidente areográfico de observação notável, em contraste com a coloração rosa do resto da superfície causada pela presença de uma fina camada ferruginosa sobre o planeta. Com um instrumento de 75 milímetros de abertura e um aumento de 150 vezes, será possível detectar algumas manchas em sua superfície. As observações só começam a se tornar atraentes com um instrumento de 80 milímetros de abertura e um aumento de 200 vezes, quando se começará a observar algumas configurações da superfície marciana, dentre elas, Systis Planitia - a mais notável mancha escura, de forma triangular - situada na região equatorial do planeta.

 

 

(*) Ronaldo Rogério de Freitas Mourão é pesquisador-titutar do Museu de Astronomia e Ciências Afins, no qual foi fundador e primeiro diretor, autor de mais de 60 livros, entre outros livros, do "O livro de ouro do Universo".

 

 

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