Preço dos meteoritos

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

Além da raridade, a forma de um meteorito pode afetar o seu preço. Existem várias modalidades de amostra: completas, parciais, fragmentos e pequenas fatias (sices - vocábulo inglês usado nos catálogos de venda de meteoritos).

Uma amostra completa é um meteorito que permaneceu como foi encontrado. Ele pode apresentar uma extensa área da crosta de fusão primária, parte da crosta de fusão secundária e linhas de ablação. Sua forma aerodinâmica resulta da ablação que sofreu ao atravessar a atmosfera. Os meteoritos completos são os mais desejados embora sejam os mais difíceis de encontrar.

Amostra parcial é uma porção significativa de um meteorito; em geral, tem uma superfície cortada e polida, ou superficie quebrada que pode ou não apresentar uma crosta de fusão secundária.

Os fragmentos são peças de um meteorito que foram expelidas violentamente da massa principal, durante sua passagem pela atmosfera, em virtude da diferença de temperatura entre a superfície incandescente e o zero absoluto reinante em seu interior. Se o meteorito rompe antes de concluir sua travessia pela atmosfera existe um tempo para que uma crosta secundária de fusão se forme dando origem a uma nova amostra completa. Os fragmentos podem também resultar de um corte. Alguns meteoritos são conhecidos unicamente na forma de fragmentos.

As fatias ou lâminas são vendidas sob a forma de fatias completas ou parciais. As fatias completas constituem uma seção inteira do meteorito original; seus bordos apresentam a superfície exterior do meteorito. Uma fatia bem preparada tem, em geral de 5 a 7 milímetros de espessura uniforme com pelo menos uma superfície polida. O polimento tem a finalidade de mostrar com detalhes o interior de sua estrutura. As fatias parciais como o próprio nome sugere parte de uma fatia completa. As fatias são a forma mais comum adquiridas pelos colecionadores, pois são menos caras que uma amostra completa e mostram os detalhes da côndrulas, breceias ou figuras de Widmanstätten nas várias classificações de meteoritos. Entre as fatias, existe uma especial, end piece, que apresenta em um dos seus bordos a crosta ou seja, a superfície exterior do meteorito. As end pieces têm a vantagem de mostrar detalhes do interior e do exterior do meteorito.

Quanto só uma pequena quantidade de um meteorito muito raro é encontrado, o preço de uma amostra se torna inacessível aos colecionadores e aos pesquisadores. De fato, uma amostra de 50 a 100 gramas destes meteoritos pode variar de 400 a 600 dólares. Com o objetivo de contornar esta dificuldade, algumas empresas de meteoritos incluem em seus catálogos uma listagem de micro e macro amostras, que reúne mais de 400 diferentes tipos de meteoritos. Seu custo é determinado pela quantidade disponível e pelo grau de exigências na preparação.

As micro e macro amostras são vendidas, respectivamente, em caixas de plástico de uma e duas polegadas de lado. Seu preço é de cerca de 12 dólares em média.

Em virtude da sua raridade, os meteoritos são vendidos em gramas. A escassez, a disponibilidade e o tamanho (e/ou dimensões) das amostras, assim como a importância e qualidade de sua apresentação podem afetar o preço.

Os preços dos meteoritos ferrosos comuns variam de 0,50 a 2,00 dólares por grama. Os meteoritos pétreos, muito mais raros, são vendidos de 2,00 a 10,00 dólares por grama para o material mais comum. Não é incomum (ou estranho ou insólito) que um material verdadeiramente escasso exceda a 1.000 dólares por grama.

Na realidade, se considerarmos a sua raridade em comparação com os gramas de ouro e de diamante, verificamos que os meteoritos não são muito caros. De fato, a produção de ouro é muito superior e, no entanto, o preço do grama do ouro de cerca de 12 dólares, e, a maior parte dos diamantes, que não são em geral de primeira qualidade, custam de 25.000 a 30.000 dólares o grama.

Existem mais de 40 firmas no mundo que exploram o comércio de meteoritos. A mais famosa é dirigida por Robert A. Haag, o "homem meteorito", - proprietário da maior e mais diversificada coleção particular de rochas extraterrestres do mundo - vendeu mais de um milhão de dólares, excedendo todos os outros 40 vendedores de meteoritos. Ele possui mais de 3.500 clientes em todo o mundo. Só um empresário japonês no período de 1989-1990 adquiriu uma pequena seleção de meteoritos no valor de 700.000 dólares.

O povo pode adquirir meteoritos com uma forma de investimento, afirma Haag que, no entanto, acredita que estas pedras extraterrestres serão "sempre um elemento de fascinação".

Haag não é o primeiro grande caçador de meteoritos. Antes dele, o naturalista Harvay Harlow Nininger (1887-1986) perseguiu e comprou meteoritos. Além de conferências sobre os meteoritos, Nininger oferecia recompensas aos componeses e os povos das cidades pelos meteoritos encontrados. Assim, conseguiu reunir uma coleção de meteoritos incomparável: cerca de 1.300 meteoritos em 30 anos.

Em seus 15 anos de pesquisa, Haag já confrontou-se com bandidos no México, soldados na Espanha, elefantes machos na África, etc. Seu estilo de vida não foi bem aceito por sua esposa, Gail, da qual se divorciou em 1989. Uma das suas mais aventuras ocorreu na Nigéria, onde foi mal acolhido. Seu objetivo nesse país era obter um exemplar do meteorito marciano - Zagami - que caiu na Nigéria em 1962. Aliás, sua atividade como caçador de meteoritos não tem sido bem recebida pelos governos. Nos EUA, tentou localizar amostras nas proximidades de Meteor Crater, no Arizona, com um detector de metais. Sua atividade foi considerada "negócio ilícito".

Sua reputação é péssima na Austrália Ocidental, onde procurou encontrar meteoritos na Planície de Nullarbor. Para o governo australiano a exportação de meteorito é ilegal. Apesar dessa proibição, Haag trouxe deste país um meteorito lunar - único achado fora da Antártica e o único em mãos particulares -, encontrado em 1960, em Calcalong Creek, na Austrália Ocidental. Hoje o governo australiano exige que o meteorito de Calcalong, que saiu ilegalmente do país, seja devolvido.

Na Argentina, Haag foi preso, em janeiro de 1990, quando tentava levar de Buenos Aires o meteorito Chago, de 33 toneladas, - um dos maiores do mundo - para conduzi-lo a Nova Iorque. Haag realizou seu melhor negócio ao adquirir por 200 mil dólares, na Argentina, o meteorito Esquel, palasito de 571kg - o maior do seu tipo no mundo - que ele conserva em sua coleção particular. Se fosse vendê-lo seu valor seria de no mínimo 5 milhões de dólares, pois cada grama vale 10 dólares. "Foi o meu mais diabólico investimento realizado" afirma Haag.

Uma das grandes obsessões de Haag é encontrar uma amostra de nakhlito - um basalto da superfície de Marte, encontrado em 1911em Nakhla, no Egito. Existem dois outros nakhlitos: um encontrado em Lafayette, Indiana, EUA, em 1931 e outro achado em Governador Valadares, Brasil, em 1958. Do exemplar brasileiro não existe nenhuma amostra no Brasil: a maior parte encontra-se na Italia e uma pequena amostra no Museu Britânico.

Publicado no Jornal do Commercio, Caderno Atualidades, 2 e 3 de março de 1997

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