O Terceiro Milênio começa em 2 001.

Ronaldo Rogério de Freitas Mourão

"Vassene il tempo, e l'uom non se n'avvede"(*)

Dante, Purgatório, IV.

"Eheu fugaces... labuntur anni" (**)

Horácio, Odes, II, 14.

 

 Toda contagem de tempo começa de zero. Entretanto, um sistema sui generis de contagem foi estabelecido para o início da era cristã, onde o algarismo 1 significa o ano que dá início à essa era. Realmente, em 525, quando Dionísio, o Pequeno, propôs que a era cristã fosse contada a partir do nascimento de Cristo, a idéia de zero era desconhecida. Na verdade, a ausência do ano zero explicar-se pela razão de que a noção de zero só surgiu no século 12, com o célebre matemático e astrônomo indiano Bhaskara (1114-1185). Isso tem provocado muitas confusões, em particular na contagem dos anos anteriores à era cristã.

Para eliminá-las foi que o astrônomo francês Dominique Cassini (1625-1712), introduziu um processo diferente de numeração, que passou a ser adotado universalmente pelos astrônomos e pelos cronologistas. Esse processo, além de facilitar enormemente os cálculos, evita qualquer risco de erro. Na contagem comum ou histórica, o ano que precede o nascimento de Cristo é o ano 1 a.C. (antes de Cristo), enquanto na dos cronologistas e astrônomos esse é o ano 0 (zero). O ano que precede esse, ou seja, o ano 2 a.C., à maneira dos cronistas, corresponde ao ano -1 dos astrônomos e assim sucessivamente para os outros anos anteriores ao nascimento de Cristo. Após o nascimento de Cristo, os dois modos de contar são idênticos. Assim damos a seguir a cronologia astronômica seguida da cronologia histórica entre parênteses: 2 (ano 2 d.C); 1 (ano 1 d.C.); 0 (ano 1 a.C.); -1 (ano 2 a.C.); -2 (ano 3 a.C.);..... -1499 (ano 1500 a.C.).

O sistema dos astrônomos está dentro da lógica e das necessidades da álgebra. As duas séries de anos antes e depois da nossa era só entram corretamente nos cálculos se existe para separá-los um ano zero. Sem a presença do zero, as contas se tornam menos simples, sendo mais fácil errar. Assim, ao calcular o 2º milênio do grande poeta latino Virgílio, que morreu em 270 a.C., os cronologistas foram induzidos a um erro. Com efeito, comemorou-se o 2º milênio do seu nascimento em 1930, cometendo-se um engano de um ano por antecipação. Se fosse considerado o sistema de contagem proposto por Cassini, e tendo em vista que o ano de morte nesse caso seria indicado pelo algarismo -269, uma simples soma (269 + 1931) conduziria à data exata.

(*) "O tempo passa e o homem não o sente"

(**) "Ai de nós, os anos fogem rápidos"

Entre outras vantagens, a numeração usada pelos astrônomos restabelece o critério de serem os anos bissextos antes de Cristo sempre divisíveis por 4. Assim, na série astronômica, permanece a divisibilidade por quatro, de modo a que os anos bissextos antes da era cristã serão 0, -4, -8, -12.

Pela convenção atual, defendida pelos astrônomos francêses François Arago (1786-1853) e Camille Flammarion (1842-1925), no fim do ano 100 terminou o primeiro século. No fim do ano 1900, terminou o século 19. O século 20, que começou em 1 de janeiro de 1901, terminará em 31 de dezembro de 2000. Assim, o século 21 começará em 1 de janeiro de 2001.

Foi esta a razão pela qual o escritor de ficção científica inglês Arthur Clarke (1917- ), ao escrever a obra que marca uma nova etapa da conquista espacial, resolveu denominá-la de 2001 - Uma odisséia no Espaço.

 

Terceiro Milênio já começou

"O tempora, o mores!(*)

Cícero, Catilinárias, I

 

Na verdade, já estamos no Terceiro Milênio. Os teólogos e estudiosos da Bíblia sabem que Dionísio o Pequeno no século VI, ao elaborar o calendário, equivocou-se em cerca de seis anos com relação à data de nascimento de Jesus. Em conseqüência, segundo os historiadores agnosticos, ateus e crentes, já estamos no Terceiro Milênio. O ano de 1997 pode ser o ano 2003 ou 2004. Na realidade, o ano zero (ou ano 1 a.C.) não corresponde ao do nascimento de Jesus. Como não existe, nos Evangelhos, uma data precisa para o nascimento de Cristo, estudiosos da Bíblia são obrigados a tomar como referência mais concreta e histórica o "tempo de Herodes" ou o "tempo do recenseamento ordenado por Augusto".

Convém recordar que, antes de Dionísio o Pequeno ter estabelecido a data do nascimento de Cristo como o início da contagem da era cristã, a cronologia baseava-se em outros marcos iniciais para contar os anos: os romanos usavam a fundação de Roma, os gregos, as Olimpíadas, enquanto os judeus adotavam como o ano zero o da criação do mundo.

Pela tradição, Jesus nasceu no ano 1 da nossa era, pois o seu nascimento é o evento que marcou o início da era cristã. Na realidade a verdade é outra. Em 525 d.C., quando Dionísio o Pequeno fixou o nascimento de Cristo em 25 de dezembro do ano 754 ab urbe condita (depois da fundação de Roma), efetuou-se um erro de cálculo da ordem de pelo menos cinco anos. Ele não havia considerado nem o zero (algarismo que seria introduzido na Índia no século IX a.C.) nem os quatro anos que o Imperador Augusto reinou com o seu próprio nome de batismo, Otávio.

Por outro lado, com auxílio de acontecimentos históricos citados na Bíblia, poderemos determinar com maior precisão os prováveis anos nos quais teria nascido Jesus. De início, segundo São Mateus, sabe-se que Jesus nasceu durante o reinado de Herodes, que faleceu no ano -3 (ou 4 a.C.), talvez nos meses de abril ou maio. Essa última conclusão prende-se ao fato de a morte de Herodes ter ocorrido antes da Páscoa dos judeus, e ter sido precedida por um

 

(*) "Ó tempos, ó costumes!"

eclipse da Lua. Ora, como o único eclipse lunar visível em Jericó foi o da noite de 12 para o dia 13 de março do ano -3 (ou 4 a.C.), como foi mencionado por Flavius Josephus, supõe-se que a morte de Herodes ocorreu provavelmente no mês que se seguiu ao eclipse. Em síntese: tudo indica que Herodes morreu entre 13 de março e 11 de abril, pois foi nesse último dia que se iniciou a Páscoa dos judeus.

Uma outra ocorrência que tem auxiliado os historiadores, foi o massacre dos inocentes, quando todas as crianças de menos de dois anos foram sacrificadas por ordem de Herodes, que se baseou nas informações dos Magos para enviar os seus soldados a Belém, a fim de matar o novo Messias que ele tanto temia. Por esse fato se concluiu que Jesus, na época, deveria ter menos de dois anos. Seria conveniente lembrar, por outro lado, que essa data pode corresponder a concepção e não ao nascimento, pois entre os orientais era tradição iniciar a contagem da idade a partir daquele instante.

Um outro ponto de referência na fixação da data de nascimento de Jesus foi a época do recenseamento ordenado pelo Imperador Augusto, que foi executado por Quirino, governador da Síria. Se aceitamos o termo recenseamento como census, isto é, como um inventário de população, a data correspondente será -7 ou -6 (ou 8 ou 7 a.C.). Todavia se tomarmos, como o fazem alguns autores, esse termo no sentido de cens, ou seja, de imposto, que deve ter sido posterior de um a dois anos ao citado inventário, é aceitável supor que o mesmo ocorreu entre os anos -4 ou -3, ou seja, 5 a 4 anos a.C. Considerando todos esses elementos, chegamos à conclusão de que a data de nascimento de Jesus deve situar-se entre os anos -4 a -6 (ou 5 a 7 a.C).

 

Em que dia do ano nasceu Cristo?

"Tempora mutantur et nos mutamur in illis"(*)

Harrison, Discription of England (1517)

 

O Natal, em 25 de dezembro, começou a ser celebrado em todo o mundo como o dia do nascimento de Jesus depois do ano 336 d.C. Antes essa data aceita como solstício do inverno no hemisfério norte, estava associada a diversas festividades pagãs dentre elas, a saturnalia, em Roma, e os cultos solares, entre os germânicos e os celtas, tiveram de ser neutralizadas junto aos adeptos do cristianismo. A principal delas era a festa pagã do dies solis invicti natalis, ou seja, o dia do nascimento do Sol invicto. Sua comemoração coincidia com os meados das saturnálias - estação durante a qual os trabalhos cessavam. Nesse dia em que o Sol começava a se dirigir para o norte, as casas eram decoradas com árvores, presentes eram trocados entre os amigos, ceias e procissões eram efetuadas pelos povos pagãos em homenagem ao Sol, que voltava em direção à sua posição

elevada, que ocorreria no verão. Como os primeiros cristãos ainda continuavam comemorando esse feriado, a Igreja decidiu, em 440 d.C., transformar tal cerimônia pagã numa festa cristã. O objetivo de Igreja foi cristianizar as festas pagãs realizadas neste dia, dentre elas a festa mitraica que celebrava o natalis invictis solis da religião persa, com a qual rivalizava o cristianismo nesta época. Assim, o dia 25 de dezembro passou a representar o dia do nascimento de Cristo.

(*) "Os tempos mudam e nós mudamos com eles"

No Oriente, ou melhor, na porção oriental do Império Romano, o nascimento de Jesus foi inicialmente celebrado em 6 de janeiro, data que estava associada a outra grande festa pagã. Comemorar o Natal nesta data, tinha como objetivo eliminar do calendário a cerimônia pagã que se realizava no templo de Kore, em Alexandria, e em algumas regiões da Arábia, quando se celebrava Kore, a virgem, que deu à luz Aion.

Em 194 d.C., Clemente de Alexandria propôs para o nascimento de Jesus a data de 19 de novembro do ano -2 (ou 3 a.C.), enquanto outros pretendiam tivesse ocorrido em 30 de maio ou 19/20 de abril. Mais tarde, em 214 d.C., Epifânio propôs o dia 20 de maio. Nessas propostas existem confusões entre a época da concepção e do nascimento. No entanto, todas elas parecem concordar com a velha tradição de que Cristo teria sido concebido na primavera e nascido em meados do inverno (essas estações referem-se ao Hemisfério Norte).

Segundo os relatos da Bíblia, o nascimento de Cristo pode ser determinado em função do de São João Batista. Assim Zacarias, o pai de João Batista, foi o sacerdote da travessia de Abia (Lucas 1.8) que teria servido no templo na sexta semana depois da Páscoa, semana anterior ao Pentecoste. Como todos os "sacerdotes" também serviram durante o Pentecoste, Zacarias teria deixado Jerusalém para sua casa no décimo segundo dia do mês do calendário israelita Sivan, ou seja, em 12 de junho do nosso calendário. Ora, como Isabel, sua esposa, concebeu seu filho depois do seu retorno (Lucas 1.24) conclui-se que João Batista deve ter nascido 280 dias mais tarde, ou seja, nas vizinhanças do dia 27 de março. Lucas (1.36) registrou ser Cristo seis meses mais jovem que João Batista, o que faz ter o nascimento de Cristo ocorrido em setembro seguinte, ou seja, no outono do ano -6 (ou 7 a.C.). A primitiva tradição cristã registrava que Jesus nasceu um dia depois de um Sabbath judeu, isto é, em um domingo. Crenças astrológicas tradicionais indicam, como dia mais provável, o sábado, dia 22 de agosto de -6 (ou 7 a.C.). Seria conveniente lembrar que no calendário judeu o dia começa ao pôr-do-Sol, de modo que se considerarmos a lenda de que Cristo nasceu depois do pôr-do-Sol, podemos aceitar que o seu nascimento ocorreu em 21 de agosto do ano -6 (ou 7 a.C.).

Em conseqüência deste grave erro histórico já estamos no Terceiro Milênio, em 2003 ou 2004. Ao contrário dos outros erros históricos, a retificação deste jamais será realizada, pois ela implicará em grandes alterações em todas os setores de vida contemporânea.

 

 

Início do ano através da história

"Years following years

steal something every day;

At last they steal us

from ourselves away"(*)

Pope, Imitações de Horácio, 22-72

Na vida cotidiana do homem neolítico, a determinação do ano tinha uma importância fundamental no planejamento da sua economia pastoril e/ou agrícola. Seu estabelecimento por intermédio das mais cuidadosas observações astronômicas, na época muito rudimentares, bem como os procedimentos de contagem dos dias, estavam relacionados às sucessivas posições aparentes das estrelas no céu e ao deslocamento da sombra produzida pelo Sol. O fato dos astrônomos-sacerdotes egípcios terem estabelecido um ano de 365 dias, por volta do ano 2800 a.C., é suficiente para sugerir que o reconhecimento da noção do ano como uma das unidades de tempo surgiu com o aparecimento das grandes civilizações.

O início do ano foi fixado convencionalmente em diferentes estações do ano por diversos povos. Entre os antigos romanos e os muçulmanos, que adotaram um ano de 364 dias, o seu início poderia corresponder sucessivamente a todas as estações. Não existia interesse em saber quais eram os primeiros meses desses anos lunares. Na realidade uma definição relativa ao início do ano só teve um significado real quando os povos passaram a adotar um calendário solar relativamente preciso.

Na Gália, o calendário estabelecido pelos sacerdotes-astronômos druidas era o ano lunar, que tinha início na sexta noite a partir da Lua do solstício do inverno, ou seja, no quarto-crescente.

Antes da reforma do calendário, ordenada por Júlio Cesar no ano 708 da Fundação de Roma (45 a.C.), o ano começava em primeiro de março, data que coincidia com o equinócio da primavera no hemisfério norte. Com a reforma juliana, o início do ano passou para primeiro de janeiro, condição que foi aceita lentamente por todas as nações ocidentais submetidas ao (ou sob influência do) domínio romano. No entanto, mesmo após terem adotado o calendário juliano, muitas divergências permaneceram com relação à origem do ano.

O ano histórico com origem a primeiro de janeiro, em analogia ao ano civil romano, foi usado até o século VI. Alegações de natureza religiosa sobre as suas conotações pagãs, levaram as autoridades eclesiásticas ao estabelecimento do calendário cristão, designado em latim como annus gratis (ano da graça) ou annus domini (ano do Senhor), cuja elaboração deve-se ao monge, teólogo e historiador Beda, o Venerável (672-735), que empregou a

(*) "Os anos que sucedem aos anos

roubam-nos algo todo dia;

No fim, eles acabam por nos

roubar a nós mesmos"

Tábua Pascal Dionisíaca, compilada por volta de 525. Esse ano foi usado em quase todos os países cristãos da Europa Ocidental, exceto a Espanha. Para origem do ano de graça adotou-se o Natal, a Anunciação ou a Páscoa. O Natal, empregado teoricamente por Beda, tornou-se mais popular, sendo utilizado no Império até o segundo quartel do século XVIII, pelo Papado (962-1098), pela realeza inglesa, em cartas comuns, até os Plantagenetas (1154-1485). Aliás, o emprego do dia 25 de dezembro para o início do ano deve-se também à influência dos beneditinos da Ordem de Cluny, na Borgonha francesa. A Anunciação, a 25 de março, foi adotada por Arles no final do século IX e usada pela chancelaria papal até cerca de 1145. Tal hábito sobreviveu em Pisa até 1750, com a designação de calculus Pisanus. A rivalidade dessa última cidade, conduziu Florença à adoção do Natal, o que deu origem ao calculus Florentinus. Tal uso estendeu-se à França e à chancelaria papal, depois de 1098, e permaneceu na Inglaterra desde o final do século XII até 1752. O emprego da Páscoa, como origem do ano da graça, foi introduzido por Filipe Augusto, mas não foi muito popular.

Nos séculos VI e VII da nossa era, na Europa, em particular em diversas províncias francesas manteve-se ainda o hábito de considerar o início do ano em primeiro de março ou no Natal. Se por um lado, nos tempos do reinado de Carlos Magno (768-814), o ano começava no Natal, uso que permaneceu ainda na região de Soissons até o século XII, por outro lado, em algumas regiões, o Ano Novo tinha início em 25 de março, próximo ao equinócio da primavera ou no dia da Anunciação.

No Concílio de Reims, 1235, o emprego do equinócio da primavera para mudança do ano era designado como um sistema "de uso na França". Em conseqüência, os presentes eram trocados durante a passagem de ano no início de abril. Mais tarde, com a transferência do começo para primeiro de janeiro, surgiram as brincadeiras próprias do Primeiro de Abril, dia no qual se passou oferecer aos amigos presentes falsos para comemorar o falso Ano Novo.

Entre os capetíngios, de 987 até 1328 d.C., o início do ano se situava na Páscoa, o que constituia um hábito muito incômodo, pois a Páscoa como festa móvel oscilava entre os dias 22 de março e 25 de abril. Em conseqüência, o ano variava continuamente de extensão provocando confusões entre os cronologistas, como por exemplo no ano de 1347, que começou na Páscoa de 01 de abril e terminou na Páscoa subseqüente, ou seja, em 20 de abril de 1348. Desse modo, o ano de 1347 teve dois meses de abril quase completos. Tal procedimento, de uso geral nos século XII e XIII, foi ainda adotado em algumas províncias francesas até o século XVI.

Para se ter uma idéia da situação criada com tais convenções contraditórias entre si, é suficiente reproduzir o seguinte texto do historiador e poeta francês Jean Bouchet (1476-1550), em Anciennes et modernes génealogies des rois de France (1536): "Carlos VIII faleceu no Castelo de Amboise a 7 de abril de 1497 antes da Páscoa, e contarmos o ano a partir da Páscoa com se faz em Paris, e em 1498 se considerarmos o início do ano no dia da Anunciação de Nossa Senhora, como se faz em Aquitânia".

Para acabar com tais ambigüidades, um edital de Carlos IX, assinado em 1564, mas que só teve efeito em 1567 (quinze anos antes da reforma gregoriana de 1582), tornou obrigatório o uso da data de primeiro de janeiro. Convém lembrar que tal escolha já era de uso na Alemanha desde o começo dos anos 1500.

Uma das grandes dificuldades em se adotar o Ano Novo no início de janeiro foi provocada pela resistência das autoridades católicas, que relutavam aceitar comemorar o origem do ano num mês que tinha o nome de uma divindade pagã Janus.

A prática em comemorar o início do ano em 25 de março foi de uso na Inglaterra até 1751, quando se adotou simultâneamente o calendário gregoriano e o começo do ano em primeiro de janeiro. Em conseqüência, o ano de 1751 começou em 25 de março e não terminou, pois o dia 1 de janeiro de 1751 passou a ser 1 de janeiro de 1752. Desse modo o ano de 1751 perdeu os meses de janeiro e fevereiro, e vinte quatro dias de março. Mais tarde, em setembro de 1752, foram suprimidos onze dias, uma das determinações da reforma gregoriana. Assim, o dia seguinte a 3 de setembro passou a ser 14 de setembro de 1752.

Na Rússia, o ano começava em 1 de setembro até o reinado de Pedro, o Grande, que instituiu o ano começando em 1 de janeiro do calendário juliano que correspondia ao 12 de janeiro do calendário gregoriano.

Atualmente, a escolha do dia primeiro de janeiro é de uso unânime entre as grandes nações, embora os judeus e os muçulmanos adotem o início do ano em épocas coincidentes com suas crenças religiosas.

A última tentativa de alterar tal convenção ocorreu em 5 de outubro de 1793, quando a Revolução Francesa instituiu um calendário que teria início em 22 de setembro de 1792, dia do equinócio do outono, primeiro aniversário da Primeira República francesa. Tal rompimento com a tradição do primeiro de janeiro durou treze anos, na França.

Além de constituir uma convenção associada às crenças religiosas e às decisões político-sociais das épocas em que foram estabelecidas, as determinações dos inícios dos milênios, dos séculos e dos anos, como acabamos de ver, variaram através da história de acordo com os conhecimentos matemático e astronômicos dominantes.

 

Bibliografia

 

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Bigourdan, G. L'astronomie, Paris, 1911.

Couderc, Paul. Le calendrier, Paris, 1946.

Mourão, Ronaldo Rogério de Freitas. Dicionário Enciclopédico de Astronomia e

Astronáutica - 2ª edição revista e ampliada, Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1996.

---. Anuário de Astronomia de 1983, Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1982.

---. Anuário de Astronomia de 1984, Editora Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1983.

---. Anuário de Astronomia de 1998, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 1997.

Wilson, Philip Whitwell. The romance of the calendar, New York, 1937.

 

 

 

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